Neoplasias Mieloproliferativas: a importância da avaliação e monitorização dos sintomas

Entrevista ao Enfermeiro Jorge Freitas, membro da AEOP, Associação de Enfermagem Oncológica

Set 17, 2019

No Dia Internacional das Neoplasias Mieloproliferativas fomos falar com a AEOP sobre a importância da avaliação e monitorização dos sintomas dos doentes com neoplasias mieloproliferativas.

Entrevista ao Enfermeiro Jorge Freitas

As neoplasias mieloproliferativas representam um grupo heterogéneo de distúrbios do sistema hematopoiético. Quais as principais preocupações nesta área para doentes e familiares?

As maiores preocupações passam por duas vertentes: uma é a fase de se diagnosticar especificamente de que tipo de doença mieloprolifarativa se trata, para melhor se definir o plano terapêutico. A segunda, passa pela necessidade de gestão dos sintomas debilitantes que, em muitas situações, têm um

forte impacto no dia a dia dos doentes, interferindo também com a vida de muitos dos seus familiares.

A que sintomas devemos prestar atenção?

São doenças tumorais, neoplásicas, da medula óssea em que há um excesso de produção de um ou mais tipos de células sanguíneas, maduras, acumulando-se na medula e no sangue periférico. Na fase inicial, estas doenças são invisíveis e silenciosas. É comum as pessoas com este género de diagnóstico desenvolverem um certo isolamento social porque os outros não entendem os problemas pelos quais estão a passar. Muitas vezes sentem-se mal pelo cansaço que a própria doença provoca ou pelos efeitos secundários dos tratamentos. Os sintomas são inespecíficos e “mal entendidos”.

Os principais sintomas podem incluir fadiga, prurido, suores noturnos, dor abdominal, saciedade precoce, dor óssea e febre.

A fadiga é o sintoma mais frequente e mais severo reportado pelos doentes. Entre os doentes com neoplasias mieloproliferativas, os doentes com Mielofibrose são geralmente os que reportam maior carga sintomática e que manifestam menor qualidade de vida.

Há mecanismos de prevenção?

Não existem especificamente mecanismos de prevenção destas doenças.

Estas doenças são raras e o diagnóstico, na maioria das vezes, baseia-se em alterações do hemograma persistentes (como por exemplo, o aumento da hemoglobina, na Policitemia Vera ou o aumento das plaquetas, na Trombocitose Essencial) ou em biópsias da medula óssea (a Mielofibrose é caracterizada por fibrose da medula óssea, para além do excesso de produção de células mielóides).

Como em todas as neoplasias, existem fatores ambientais e externos que temos de ter em atenção como forma de prevenção da doença oncológica.

O que é a escala de sintomas MPN10? Como funciona e qual o benefício da sua utilização para os doentes?

Sabemos que a Mielofibrose, a Trombocitose Essencial e a Policitemia Vera apresentam um conjunto de sintomas comuns. Com base nisto, definiu-se uma escala com dez sintomas, tais como a fadiga, a saciedade precoce, o desconforto abdominal, a inatividade, os problemas de concentração, os suores noturnos, o prurido aquagénico (uma comichão na pele quando em contacto com a água), as dores ósseas, a febre e a perda de peso. O que se pretende é que o doente com neoplasia mieloproliferativa classifique, a intensidade dos sintomas, numa escala de 0 a 10, em que 0 é a ausência do sintoma e 10 é o pior imaginável e, idealmente, com uma periodicidade mensal.

Sabemos que a AEOP tem um projeto em torno destas patologias. Pode sucintamente explicar-nos em que consiste este projeto?

A gestão destas doenças implica, uma constante preocupação em aliviar os sintomas e em prevenir as complicações. Este projeto foca-se precisamente na avaliação e monitorização dos sintomas dos doentes com estas patologias. Para tal, as equipas de enfermagem dos serviços de hematologia de diferentes hospitais portugueses, através da utilização da escala MPN-10, têm sistematizado esta avaliação e registo dos sintomas, potenciando um melhor acompanhamento e envolvimento de toda a equipa multidisciplinar. Esta escala, quando devidamente utilizada, funciona como uma estratégia de prevenção e gestão dos sintomas, sempre na ótica de potenciar aos doentes a melhor qualidade de vida possível, adaptada a uma nova realidade de doença.

Para as pessoas, no geral, e os doentes, em particular, onde podem procurar mais informação sobre estas patologias?

O nosso estudo vai mais longe do que apenas a análise da carga sintomática usando a escala MPN-10. No âmbito deste projeto, foram criados alguns documentos que achamos essenciais ao apoio informativo dos doentes e familiares sobre como gerir os sintomas, conhecer melhor estas doenças, servir de elo de ligação entre o doente e os profissionais que o tratam, possibilitando uma maior personalização terapêutica. Um dos documentos é sobre O que devo saber sobre os sintomas das doenças Mieloproliferativas?, e outros três são guias de apoio sobre Mielofibrose, a Policitemia Vera e a Trombocitemia Essencial. Por outro lado, criámos um site aberto e que disponibiliza informação essencial sobre estas doenças, a que os doentes podem recorrer para obterem mais informações. O site é: http://mpn10.aeop.pt.