A evidência de mundo-real, em conjunto com os ensaios clínicos, é a matéria prima que permite definir o real benefício da inovação.
Pedro Laires, Health Economics & Outcomes Research Head
A geração de evidência de mundo real é um fator determinante na investigação após desenvolvimento do medicamento, por permitir aos investigadores obter um retrato real do impacto das doenças e respetiva gestão ao longo do tempo e sem o enviesamento das condições controladas de um ensaio clínico.
A Novartis Portugal marcou presença na conferência do ISPOR 2019 em Copenhaga e levou consigo alguns dos seus melhores trabalhos em dados do mundo real. Pedro Laires, Health Economics & Outcomes Research Head explica que dados são gerados nestas investigações e quais as mais valias e utilização desta informação.
Em que consiste a investigação de dados reais em saúde?
Consiste em gerar evidência que seja útil para a tomada de decisão a diferentes níveis, seja para o acesso e financiamento de um dado medicamento, ou para a própria decisão no dia-a-dia do médico sobre prescrever ou não esse mesmo medicamento.
E como é obtida esta informação por parte dos investigadores?
Contrariamente ao que se passa nos ensaios clínicos, este tipo de investigação é eminentemente observacional. Isto é, “limita-se” a observar os resultados em saúde que se obtêm na sequência das escolhas que os médicos e os decisores fazem no que diz respeito ao diagnóstico, seguimento e tratamento dos doentes. Essa observação na prática clínica real pode processar-se de diversas formas. Pode consistir em recolher dados de novo num dado setting de prestação de cuidados, por exemplo um hospital, ou analisar de uma forma retrospetiva dados que haviam sido previamente recolhidos de forma sistematizada num registo clínico.
Em todo o caso, convém ressalvar que a evidência de mudo-real também contempla outro tipo de estudos, nomeadamente aqueles que visam caracterizar melhor a carga da doença, os seus padrões de tratamento, a caracterização dos doentes e a forma como estes experienciam a sua condição clínica. Como tal, este tipo de investigação pode e deve socorrer-se de diferentes metodologias e fontes de dados. Sobretudo, interessa colocar a questão correta e perceber se este tipo de investigação está a servir o seu propósito primordial, isto é, munir a Sociedade com informação realmente útil para o processo de decisão em saúde.
Qual é a relevância desta evidência para a Novartis?
Esta é a informação que melhor permite destrinçar entre o que é uma mera despesa para o erário público ou um investimento que traz o devido retorno à sociedade, nomeadamente em termos de ganhos concretos para a saúde da nossa população. De forma muito simples, a evidência de mundo-real, em conjunto com os ensaios clínicos, é a matéria prima que permite definir qual o real benefício da inovação desenvolvida pela Novartis.
Em que é que ela é usada?
Pode ser usada para demonstrar os potenciais benefícios da adoção de um dado medicamento inovador em detrimento de outro pré-existente, pode ser usada para demonstrar que ainda existe uma lacuna terapêutica à qual urge dar resposta. E pode ainda ser usada para construir e manter a proposta de valor que é condição sine quo non às decisões de financiamento dos produtos farmacêuticos. Esta questão é particularmente relevante no paradigma atual onde se verifica uma dificuldade no acesso à inovação no nosso país. Por exemplo, demostrar o impacto negativo que, decorrente de um acesso limitado ou até mesmo inexistente a uma dada inovação terapêutica, pode contribuir para uma consciencialização muito concreta sobre as consequências deste paradigma.
Por fim, é importante frisar que demonstrar o valor da nossa inovação, nomeadamente através da utilização de evidência de mundo-real, pode não ser o garante do seu financiamento, acesso e adoção. No entanto, certamente que o seu inverso, isto é, uma proposta de valor não sustentada com evidência relevante para o nosso contexto, não será um bom prenúncio.
Que ganhos podem estes dados acrescentar quando o objetivo é melhorar e prolongar a vida das pessoas?
Ajudam na transição entre uma “promessa” e a sua “concretização”. A real demonstração de que as soluções que apresentamos traduzem-se nisso mesmo – melhorar e prolongar a vida das pessoas!
A Novartis Portugal teve uma presença muito forte no ISPOR 2019. Que informação foi apresentada e porque é que é tão importante esta presença na conferência?
Esta é a conferência que reúne académicos, profissionais de saúde, profissionais da indústria farmacêutica, decisores e Autoridades, onde se discute temáticas preponderantes no sector da saúde, nomeadamente aquelas sobre acesso e financiamento das tecnologias da saúde, desafios atuais e perspetivas futuras. Este ano, por exemplo, a temática foi a transformação digital do sector. Tivemos uma presença forte, com mais de 20 trabalhos apresentados, dos quais uma apresentação oral e 3 posters destacados como finalistas. A presença nesta conferência é crucial porque é o fórum adequado para mostrarmos aos vários stakeholders (nacionais e internacionais) os resultados da nossa investigação. Este ano, por exemplo, apresentámos dados concretos sobre a carga de algumas doenças muito impactantes em Portugal, sobre o valor económico e as características da população portuguesa tratada com alguns dos nossos medicamentos. Apresentámos ainda o potencial impacto negativo na sociedade pelo atraso que temos no acesso aos nossos medicamentos inovadores. O destaque destes trabalhos nesta importante conferência não só valida e destaca a investigação de mundo-real que fazemos em Portugal, como reforça a Novartis como líder também nesta área.