Coligação Nação Invisível: Pela Saúde Cérebro-Cardiovascular dos Portugueses

Combater a indiferença e a inércia de ver desaparecer os nossos familiares e amigos por Doença Cérebro-Cardiovascular.

Junho 29, 2023
Nação Invisível

 

Dia 29 de junho, fica marcado pela constituição da Coligação Nação Invisível, pela saúde cérebro-cardiovascular dos Portugueses, que resulta de uma colaboração entre a Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca (AADIC), Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC) e a Portugal AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos (PT.AVC) e a Novartis. 

A população portuguesa está a viver cada vez mais tempo: Aos 65 anos, em média, cada português tem pela frente mais duas décadas para viver. A longevidade da população1 é uma realidade, mas este tempo adicional de vida ainda não é vivido com qualidade2

De facto, em Portugal mais de quatro em cada dez adultos sofrem de duas ou mais doenças crónicas, sendo o terceiro país da OCDE com maior percentagem de pessoas com multi-morbilidade. E a esmagadora maioria dos portugueses com multi-morbilidade, 76,7%, tem 65 ou mais anos3. Os portugueses estão a viver mais tempo, mas com menos qualidade de vida. 

Portugal faz pouco para impedir a morbilidade e mortalidade evitável dos seus cidadãos. O investimento em saúde per capita - 2 331 EUR - e em percentagem do PIB – 10,5% - é inferior à média da UE - 3 159 EUR e 10,9% respetivamente. Mais do que isso, é um investimento focado em gestão da doença e não na prevenção e promoção da saúde: o investimento em prevenção é de apenas 1,9 % do total das despesas de saúde - em comparação com 3,2% na UE4.

É fácil de compreender como se chega à realidade preocupante das doenças cérebro-cardiovasculares (DCCV) em Portugal, a principal causa de morte e a primeira causa de incapacidade no nosso país, responsáveis por 1 em cada 3 mortes5.

O número de vidas já perdidas ganha maior impacto quando perspetivamos as que ainda podemos perder: cerca de 68% da população portuguesa tem dois ou mais fatores de risco de DCCV, e 22% tem quatro ou mais6. Destes doentes com risco cérebro-cardiovascular muito elevado, 1 em cada 3 doentes já sofreu um evento cérebro-cardiovascular7. A título de exemplo, 2 em cada 3 mortes por DCCV são devidas a doença cardiovascular arteriosclerótica (DCVA) não controlada: 25 mil pessoas por ano8. Um estudo recente comprova que os doentes em risco cérebro-cardiovascular elevado e muito elevado não conseguem baixar o seu colesterol ‘mau’ LDL para os valores preconizados nas recomendações clínicas... Apenas um exemplo da oportunidade perdida de uma maior aposta na prevenção e controlo dos fatores de risco associados à DCCV. 

Mas, muito além dos números, o seu contexto e impacto são igualmente preocupantes, a coligação Nação Invisível visa abrir as portas a todos os atores que queiram contribuir para que no nosso país não seja aceite como 'normal' ser um doente DCCV e para que estas doenças deixem de ser um flagelo para tantas famílias.

É preciso acordar a sociedade civil portuguesa da indiferença face à realidade das DCCV em Portugal, às suas consequências e ao facto de que esta é a principal causa de morte evitável no nosso país. É preciso dar a cidadãos e decisores de saúde a noção de urgência para agir, e do seu poder para alterar a situação hoje. As DCCV são um problema de saúde, em geral, prevenível, tratável e controlável com um impacto relevante na longevidade da população. 

Prevenir e controlar as DCCV traduz-se em mais e melhor tempo de vida e, também, na utilização eficiente dos recursos em saúde. 

Assim, as organizações que atuam na área das doenças cérebro-cardiovasculares concordam em unir esforços e trabalhar em conjunto na Coligação Nação Invisível: Pela Saúde Cérebro-Cardiovascular dos Portugueses para:

Nação Invisível

 

A Coligação Nação Invisível: Pela saúde Cérebro-cardiovascular dos portugueses assume o propósito de criar um sentido de urgência para alterar o atual cenário das doenças cérebro-cardiovasculares em Portugal e trabalhar para desencadear uma mudança de comportamento na sociedade, junto da comunidade de doentes e também junto dos decisores para que a saúde cérebro-cardiovascular seja uma prioridade.

Este compromisso irá traduzir-se em ações concretas centradas nas autoridades de saúde nacionais e locais, mas também nas organizações da sociedade civil e cidadãos, focadas no longo prazo, combinando o foco em medidas preventivas primárias e secundárias dos fatores de risco das doenças cérebro-cardiovasculares.

Porque é necessário mudar a realidade das doenças cérebro-cardiovasculares em Portugal.

Atuar nas DCCV exige uma mobilização do cidadão a nível individual para que esteja mais consciente dos fatores de risco e possa gerir melhor a sua saúde, mas também ao nível dos nossos decisores que precisam não só de colocar mais recursos na prevenção como também estabelecer prioridades mais claras e que sejam mobilizadoras de todos os setores da sociedade que podem contribuir para que  as DCCV deixem de ser um flagelo para as famílias portuguesas, refere Luís Filipe Pereira, presidente da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca.

Muito além dos números das DCCV preocupam-nos o contexto e o seu impacto, numa sociedade que enfrenta hoje as consequências de que é inevitável viver e morrer de DCCV. Não podemos aceitar como inevitável o fardo que a sociedade suporta e que, no contexto do envelhecimento que caracteriza o nosso país, sofre consequências que extravasam a saúde e se tornam avassaladoras. Ao longo dos anos temos trabalhado com a sociedade civil para a consciencialização da importância de um estilo de vida saudável e do controlo dos fatores de risco e para a necessidade de uma atuação a nível individual e coletivo. É com entusiasmo que o continuaremos a fazer de uma forma integrada através da Coligação Nação Invisível, comenta Manuel Carrageta, Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia.

Como representantes dos sobreviventes de AVC, conhecemos de perto as consequências na pessoa, na família e na sociedade da falta de prevenção, de uma atuação precoce e da reabilitação e do acompanhamento adequado das pessoas que sofrem as DCCV. Precisamos não só de valorizar mais a prevenção, como também olhar para as necessidades dos doentes, apostando num Programa de Reabilitação Multidisciplinar adequado e acessível a todos. A Coligação abre as portas a todos os atores que queiram contribuir para que o nosso país não seja aceite como normal ver desaparecer, ou passar a ter uma vida tão desintegrada, tantos dos nossos familiares e amigos por DCCV, reforça António Conceição, Presidente da Portugal AVC.

1 Instituto Nacional de Estatística - Censos 2021. XVI Recenseamento Geral da População. VI Recenseamento Geral da Habitação : Resultados definitivos. Lisboa: INE, 2022. Disponível na www:<url:https://www.ine.pt/xurl/pub/65586079&gt;. ISSN 0872-6493. ISBN 978-989-25-0619-7;

2 Instituto Nacional de Estatística – Tábuas de Mortalidade Completas 2019-2021 disponível em https://www.ine.pt/ngt_server/attachfileu.jsp?look_parent-Boui=57717488…;

3 OECD (2019), Health at a Glance 2019: OECD Indicators, OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/4dd50c09-en;

4  OECD/European Union (2022), Health at a Glance: Europe 2022: State of Health in the EU Cycle, OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/507433b0-en;

5  DGS, Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares 2017;

6 Mafalda Bourbon et al, 2019, Prevalência de fatores de risco cardiovascular na população portuguesa, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA, IP);

7 LATINO study; Mach F., et al; ESC Scientic Document Group. 2019 ESC/EAS Guidelines for the management of dyslipidaemias: lipid modification to reduce cardiovascular risk. Eur Heart J. 2020 Jan 1;41(1):111-188;

8 Global Burden of Disease Study 2019 (GBD 2019) Results. Seale, United States: Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), 2021.